Transformação digital é um dos termos mais utilizados nos últimos anos junto com inovação. Mas afinal de contas, será que estamos de fato transformando nossos negócios ou apenas incorporando a digitalização?
Para exemplificar a diferença precisamos, antes, recapitular brevemente as quatro ondas de transformações que vivemos desde meados dos anos 1990.
Onda 1.0: 1996, chegada da internet no Brasil
Passamos a nos conectar, consumir informações, conhecer produtos e serviços. Foi também o marco do empoderamento dos consumidores.
Onda 2.0: 2001, vinda da banda larga
E com ela a possibilidade de conteúdos mais interativos com áudio e vídeo. As primeiras plataformas de streaming começam a ser criadas como o YouTube (2005).
Onda 3.0: 2007, a onda da mobilidade
Inaugurada de forma marcante com a chegada do iPhone no início de 2007. Este foi o momento em que passamos a comparar as ofertas em qualquer lugar.
Onda 4.0: atual, a onda da ubiquidade
Esse termo significa ‘’presente em toda parte’’. Não ‘’entramos na internet’’ pelo fato de que nunca saímos. Temos conexão rápida e ilimitada praticamente em qualquer lugar e em qualquer momento.
Além disso, vivemos com dispositivos inteligentes por toda parte, sejam os assistentes virtuais, como a Alexa, ou com dispositivos cada vez mais inteligentes para funções como a segurança de nossas casas e empresas.
Linha do tempo
A linha do tempo introduz a reflexão de Brett King, renomado autor que afirma que a grande maioria das empresas simplesmente remendou seus negócios durante as três primeiras ondas e estão passando por dificuldades para entrar no mundo 4.0.
Como por exemplo – vou usar outro setor que todos temos experiências e possivelmente algum tipo de insatisfação – o sistema financeiro.
Banco em 1990
Imagine que você está buscando um financiamento imobiliário, mas está no início dos anos 1990. O banco iria demandar uma série de documentos e uma série de passos (processos) para que você tivesse o recurso avaliado, aprovado e disponibilizado.
Quando a onda 1.0 chegou, os bancos criaram seus internet bankings. O processo manteve-se idêntico.
Muitos até preferiam resolver a questão presencialmente pois não tinham como digitalizar os documentos necessários.
Na onda 2.0 os sites ganharam recursos e um visual mais amigável, o processo permaneceu intocado.
Aplicativos e experiência
Na onda 3.0 chegaram os aplicativos. E a experiência, em muitos casos, até ficou pior, dada a falta de responsividade e dificuldade para preencher grandes formulários com uma tela ainda menor.
Agora, podemos pedir comida, encomendar um item, assistir um filme usando apenas comando de voz.
Será que seria remotamente possível fazer o mesmo com o financiamento imobiliário? Impossível.
É aí que empresas que repensaram os processos a partir do zero ganham a corrida. No mundo das finanças o impacto foi enorme.
Do último 1 bilhão de pessoas que abriram uma conta no mundo, 850 milhões o fizeram com onboarding 100% digital, sem nunca pisar em uma agência bancária.
São consumidores que não toleram perder tempo de forma desnecessária. Os bancos e instituições tradicionais abriram 150 milhões de contas e não se deram conta de que deixaram de atender um público quase seis vezes maior por suas burocracias processuais e falta de tecnologia.
Eles até avançaram na incorporação de ferramentas, mas não mergulharam em seus processos.
Digitalização não é transformação digital
Essa é a diferença entre digitalizar ou causar uma transformação digital. E por isso que empresas como o NuBank tem hoje um valor de mercado superior à instituições centenárias com amplo domínio do mercado por décadas.
Vale refletir sobre isso com sua equipe e buscar transformações que gerem valor sempre com foco no seu cliente.
Bons negócios!
Sobre o autor
Arthur Igreja
Autor, palestrante e co-fundador da plataforma AAA Inovação