Por Arthur Igreja, durante o evento Gestor Inside Online
Em um evento dedicado à gestão de empresas de segurança, o Gestor Inside Online, com 8 horas de conteúdos ininterruptos apresentado por experts da área e convidados especiais, nada melhor que começar com uma boa dose de informação sobre o panorama atual da economia. E ninguém melhor que Arthur Igreja, que conhece muito bem dos dois mundos – mercado da segurança e economia – para fazer essa atualização.
Confira, abaixo, os pontos de destaque da sua fala:
Características da crise
– Crises que surgem por conta de pandemias/doenças criam pânico, deflagram quedas drásticas da economia, porém, duram um tempo menor que outras crises. A dúvida é quantas pessoas ficam no caminho.
– A China é um clássico exemplo de economia que sofreu um efeito V (queda brusca, de mais de 50%, e recuperação rápida): ficaram janeiro e fevereiro parados. Em março, houve uma breve retomada e agora, caminham para um retorno de próximo a 90% pré-crise. A tendência é que eles tenham crescimento no segundo semestre.
– Nos EUA: queda brutal, recuperação rápida.
– A expectativa para o Brasil é semelhante. A bolsa caiu drasticamente e já está se recuperando. Julho e agosto deveremos ter notícias bem melhores que agora.
– O Brasil estava em um ritmo bom de crescimento. Se continuássemos nele, com foi em janeiro e fevereiro, ao final do ano poderíamos chegar a um crescimento de 3%. Mas trata-se de uma crise que soma características de outras crises: característica de paralisia com a greve dos caminhoneiros de 2017; características de pânico do mercado, como ocorreu em 2008.
Dinâmica econômica
– A equipe econômica do Brasil é uma das melhores do mundo, pois seguiu uma linha semelhante a dos EUA, pois criou vários “amortecedores” da economia. Um exemplo é a flexibilização dos contratos de trabalhos, responsável pelo número de desempregados quatro vezes menores que dos EUA. Quanto mais “amortecedores” na economia, menores os impactos.
– O que puxa uma economia é a confiança dos investidores e dos consumidores. A queda será generalizada no mercado, porque essa confiança está abalada. Mas no lado do investimento, as coisas estão mais aquecidas.
– O mercado vai cair na média para todo mundo, mas quem se mexer mais rápido, vai conseguir conquistar território. As vezes a empresa que quebrou agora, iria quebrar em breve, pois ela é tão frágil que, para dar dinheiro, tudo tem que dar certo – a economia, a cidade, o quadro social, o preço dos produtos, o câmbio do dólar… ao contrário de uma empresa robusta, que mesmo levando pancadas, tem uma fortaleza para se sustentar.
Por isso, quem se mexer mais rápido vai encontrar um mercado mais aberto.
É hora de definir estratégias
– O que o coronavírus está fazendo para a economia é dar um pause no mundo, como um pace car. Assim que “a corrida” voltar, tem que estar bem colocado, tem que estar vivo, antenado. Está sendo um momento que, mesmo quem está passando por dificuldades – alguns bancos estão dando as costas para os empresários – mas negócios que têm recorrência, têm números na mão, consegue negociar.
– Empresas que estão pensando em comprar carteira, restruturação, ampliação, vão encontrar o crédito mais barato da história para fazer isso.
– Inflação: neste momento, há deflação por falta de demanda e é um momento triste, pois geralmente ela ocorre quando as empresas se tornam mais eficientes, mas não é o nosso caso. Não tem ninguém comprando e por isso tem que baixar o preço.
– Taxa de juros perto do zero – se pegar a Selic, depois de impostos e depois de inflação, perto de zero. Diferente do cenário de três anos atrás. E isso importa? Sim, porque influencia no preço das empresas. Hoje a negociação é outra.
Sem desespero pela fotografia, é preciso ver o filme inteiro
– Não existe um Brasil. Existem mil “Brasis”. Nós vamos ver números feios nos próximos meses, mas é preciso filtrá-los. O motor econômico da cidade onde você mora também é importante. Os setores irão sofrer de formas diferentes.
– O segundo trimestre teremos números ruins, resultantes dos meses de abril, maio, junho, segundo trimestre. Os números de julho serão tragédias. Quem consegue olhar o filme, vê que a partir de julho haverá mais movimento. As pessoas vão encontrar um jeito de trabalhar e continuar a vida – a economia real irá retomar.
– O mais prudente é nos prepararmos em um cenário com coronavírus, porque vamos, talvez, ter que conviver com essa situação por muitos meses. Temos que nos adaptar. Muitas pessoas acham que o mundo ficará paralisado para sempre. As coisas vão poder ser feitas, mas de um jeito novo diferente.
– A partir de agosto, o pace car irá sair da pista e tudo tem que estar pronto para a relargada.
– O tempo inteiro a gente não revê coisas do nosso negócio porque não temos tempo. E agora é hora de tirar da gaveta muitos projetos: treinar a equipe, para rever processos.
– As pessoas estão desesperadas para viajar, para ver o mundo a fora. No exterior, vimos filas nas lojas, porque as pessoas queriam sair, se presentear. Vamos ter uma economia local aquecida.
Definitivamente, não é hora de ficar parado.
Sobre o autor
Arthur Igreja
Palestrante em mais de 150 eventos por ano como o TEDx no Brasil, Europa, Estados Unidos e América do Sul. Professor da Fundação Getúlio Vargas. É autor do livro “Conveniência é o nome do Negócio” que traz como tema principal a inovação. Co-fundador da plataforma AAA com Ricardo Amorim, do Manhattan Connection. Experiência profissional e acadêmica em mais de 25 países, Masters in International Business nos EUA pela Georgetown University, corporate Masters of Business Administration na Espanha pela ESADE, mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV/EBAPE, certificações executivas em Harvard & Cambridge, pós-MBA em Negociação pela FGV e MBA pela FGV/Ohio University.